Em um piscar, os meus olhos montaram coleções parecidas com os negativos das velhas câmeras analógicas. Nada era muito nítido, mas a cada frame meio borrado, predominado por tons fantasmagóricos, montei um acervo de lembranças, grande o suficiente, para reviver o que eu pensava já ter esquecido.
Em outro piscar, os meus olhos puderam rever certo momento em que você me pegou pelas mãos e me pediu outro abraço. Você me disse: temos mais cinco minutos. Deitei-me ao seu lado a fim de lhe entregar o abraço que havia pedido, vi meu rosto pressionado no espaço entre seu peito e seu pescoço e acabei espirrando ao sentir o cheiro cítrico do perfume que havia acabado de usar. Por ter sido inusitada tal situação, rimos.
Em outro piscar, os meus olhos puderam rever certo momento em que você me pegou pelas mãos e me pediu outro abraço. Você me disse: temos mais cinco minutos. Deitei-me ao seu lado a fim de lhe entregar o abraço que havia pedido, vi meu rosto pressionado no espaço entre seu peito e seu pescoço e acabei espirrando ao sentir o cheiro cítrico do perfume que havia acabado de usar. Por ter sido inusitada tal situação, rimos.
Em
um terceiro e pesaroso piscar, meus olhos nos viram em silêncio. Eu sorria,
discretamente, mas sorria, enquanto fechava lentamente os olhos e imaginava um
leve sorriso também esboçado em seus lábios. Foi aí que, em um quarto e já
úmido piscar, meus olhos vagos encaravam a parede branca e lânguida prostrada à
minha frente. Consumida por algo parecido com o desespero, vi-me, novamente,
tentando lhe dizer, por meio de telepatia, as coisas que por ventura não disse.
Já
exausta, por ter descoberto, depois de certo esforço, que eu não possuía o
poder da telecinésia, organizei, a meu modo, uma versão com cortes do nosso
filme. Retirei os negativos queimados, adaptei as imagens que pareciam não
fazer sentido e reescrevi o roteiro, porque infelizmente não me lembrava com
exatidão quais palavras havíamos usado. Então, em um piscar parecido com o mar
vermelho, meus olhos se imaginaram ao lado dos seus assistindo ao nosso pequeno
filme por um álbum que podíamos correr com os dedos.
Em
um quinto piscar seco e consternado, meus olhos enxergaram a conformidade.
Parecia o bastante lembrar apenas daquilo que me fazia tanto querer lembrar de
você. De súbito, em um sexto piscar, vi seus olhos, senti seu cheiro, apreciei
seu sorriso, dancei mentalmente ouvindo o som da sua voz, senti apertar-me o
seu abraço, me arrepiei com a aspereza de suas mãos, entreguei-me à intensidade
do seu beijo e recebi com esperança o seu até breve.
Em
um sétimo e, agora, já tranquilo piscar, meus olhos se viram de frente para um
espelho, e nesse espelho eu sorria. Assim, guardei os negativos em envelopes
vermelhos que selei com adesivos bonitinhos e os deitei dentro de uma caixa de
recordações. O nosso filme, modesto e curto, guardei em minha memória para
rever nos momentos em que eu começar a pensar que não existem motivos para que
eu queira me lembrar de você.
