domingo, 23 de abril de 2017

Morada

Já peguei o jeitinho de fechar a janela, e assim, a vida me deu o respaldo para que, enfim, aqui eu fizesse morada. No canto, que hoje chamo de meu, acredito que deixei de rastro a minha presença, seja por meio do criado mudo no qual fiz questão de imprimir minha identidade por meio de pinceladas de tinta lilás e adesivos divertidos, pela colcha que imita a de retalhos estendida sobre a cama, ou até mesmo pelo perfume doce e marcante que deixo pairando no ar.

Os lugares que acolhem são bons. Saber se sentir acolhida, até mesmo pela simplicidade, é melhor ainda. Ter planos, mesmo quando tudo parece ainda ser pouco, faz nascer, de uma forma muito humana, a vontade de conquistar o muito. Olho para as paredes brancas do meu canto e já visualizo o quanto um mural com as fotos de pessoas que eu amo darão um fôlego de vida a mais para um lugar ainda tão desfalecido. Chego a me distrair pensando na disposição dos pôsteres e quadros que também fariam parte das paredes que, apesar de apáticas, são acolhedoras.

E é com esses planos simples que encho minha cabeça de molduras e cores que se mostram otimistas em um cenário que tinha tudo para ser apenas de pessimismo. Ando descobrindo que, embora tenha sua beleza, o choro não é tão bom quanto o sorriso. Não é muito difícil colocar a cabeça no travesseiro e sentir paz ao invés de desespero quando bem lá no fundinho do nosso ser ainda resta um “cadinho” de esperança.


Fui aconselhada a substituir as taquicardias e palpitações por suspiros e muita inspiração. Por mais que dar conselhos seja mais fácil do que tomar atitudes e tentar modificar um pouquinho aquilo que não tem trazido conforto, é bom tentar se permitir acreditar nas moldura e cores que não me saem da cabeça. Nada é tão difícil quanto recomeçar e arriscar, mas me parece também, que isso não é impossível. Gosto da minha capacidade de fazer morada em lugares improváveis, porque acabo chegando à conclusão de que até mesmo o improvável pode ser possível.