Foi decepcionante descobrir que as nuvens não são feitas de açúcar como o algodão doce. Lá, em um passado não muito distante, lembro-me das horas que perdi admirando o céu, brincando com ursos, viajando na cauda de dragões ou saboreando junto de pássaros e anjos o sabor doce, que derrete na boca, das brancas nuvens de algodão.
Sempre fui apaixonada por algodão doce, eu achava curiosa a maneira como ele era feito. Eu sempre observava isso nas festas infantis que eu ia. Existia uma máquina que rodava e fazia barulho. O moço geralmente jogava açúcar lá dentro e podia também colocar uma coisinha colorida para fazer algodão rosa, verde ou amarelo. O mais surpreendente para mim era ver o açúcar que rodava em um redemoinho de vento se transformar de repente em nuvens. Eu não conseguia parar de pensar... Aposto que as nuvens do céu são feitas da mesma forma. Logo, eu me afastava das outras crianças e ia até o lugar de mais silêncio que eu pudesse encontrar. Era importante que fosse um lugar aberto. Geralmente eu me sentava no chão agarrada aos meus joelhos, e de cabeça alta eu fitava o céu. Era fácil imaginar um senhor gigante que morava em uma casa no céu jogando açúcar pelo ar, e nesse instante sentia uma rajada forte de vento que circulava e misturava tudo. Eu era um grande admirador desse senhor, afinal ele também tinha aquele vidrinho com coisa colorida para misturar no açúcar. Nos fins de tarde eu reparava, ele sempre preparava nuvens cor de laranja e cor de rosa. Eu sempre quis ser doce e livre como as nuvens e como o algodão doce. Pra poder sentir o que ambos sentiam quando se aventuravam em meio ao vento.
Hoje eu sei que não há nada disso. Sei que nuvens são formadas por partículas condensadas de água ou de gelo. Mas ainda assim continuo admirando a capacidade de mudança que elas têm. Uma nuvem se move, se transforma, se divide, se dispersa. Sua alma errante me fascina. Hoje gosto mais de nuvens do que de algodão doce. O algodão doce é frágil, é preso. É um pó que ganhou forma, mas não ganhou movimento. Ainda na minha infância, me lembro do dia em que comprei algodão doce na pracinha, estava um sol de rachar, o vento soltava baforadas quentes, eu não aguentava de tanto calor... Começou a chover muito forte e eu nem tive tempo de correr para me esconder, acabei me distraindo enquanto procurava um lugar coberto para me proteger da chuva. Quando olhei para minhas mãos, eu tinha um palito e o meu algodão havia sumido. Quando eu olhei para o céu as nuvens ainda estavam lá. Hoje eu sei... É melhor ser livre do que ser doce.

Nenhum comentário:
Postar um comentário