E de
repente, o silêncio torna-se a única reação possível. No grande teatro
encontro-me em meio à plateia. Resta-me apenas uma velha, robusta e acolchoada
poltrona encapada por veludo vermelho que não me acomodou como eu gostaria.
No
palco, sob a tábua corrida, assisto àquela cena e sou ensurdecida pelos
aplausos que ecoam naquele espaço de acústica perfeita. Sinto o cheiro do
carvalho e uma vertigem surpreende-me.
Sem
poder participar das palmas, e sem ter o direito de engrossar o coro de ovações
reservo-me no dever de permanecer estática.
Na peça
em que quase fui protagonista não ganhei sequer o papel de figurante. Não me
ofereceram nem ao menos um lugar nos camarotes, mas eu deveria agradecer por
estar ao menos nas últimas fileiras. Afinal, não é a poltrona do corredor
central, mas por sorte eu estou próxima da saída de emergência.
Eu
queria poder ouvir o som produzido a partir do contato do assoalho de madeira e
de meus sapatos, mas o querer nem sempre vem acompanhado do poder.
Se eu
pudesse ter escolhido teria te aplaudido de pé, mas acabo por contentar-me com
o gosto amargo que impregna minha saliva por culpa da ânsia, da angústia, da
inquietação e porque não do desespero dos meus membros que já suam frios como
mármore. “Aquietem-se, aquietem-se” grito em silêncio. Aceito em silêncio.
Compreendo em silêncio. Deixo-te ir em silêncio. As cortinas se fecham e
permaneço em silêncio.

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