segunda-feira, 22 de maio de 2017

Ode ao silêncio

E de repente, o silêncio torna-se a única reação possível. No grande teatro encontro-me em meio à plateia. Resta-me apenas uma velha, robusta e acolchoada poltrona encapada por veludo vermelho que não me acomodou como eu gostaria.

No palco, sob a tábua corrida, assisto àquela cena e sou ensurdecida pelos aplausos que ecoam naquele espaço de acústica perfeita. Sinto o cheiro do carvalho e uma vertigem surpreende-me.

Sem poder participar das palmas, e sem ter o direito de engrossar o coro de ovações reservo-me no dever de permanecer estática.

Na peça em que quase fui protagonista não ganhei sequer o papel de figurante. Não me ofereceram nem ao menos um lugar nos camarotes, mas eu deveria agradecer por estar ao menos nas últimas fileiras. Afinal, não é a poltrona do corredor central, mas por sorte eu estou próxima da saída de emergência.

Eu queria poder ouvir o som produzido a partir do contato do assoalho de madeira e de meus sapatos, mas o querer nem sempre vem acompanhado do poder.

Se eu pudesse ter escolhido teria te aplaudido de pé, mas acabo por contentar-me com o gosto amargo que impregna minha saliva por culpa da ânsia, da angústia, da inquietação e porque não do desespero dos meus membros que já suam frios como mármore. “Aquietem-se, aquietem-se” grito em silêncio. Aceito em silêncio. Compreendo em silêncio. Deixo-te ir em silêncio. As cortinas se fecham e permaneço em silêncio.



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