Lembro-me
bem do dia em que finalmente descobri que seus olhos eram verdes. Eu estava
sentada bem de frente para você. O almoço estava realmente muito bom. O
restaurante tinha um toque informal, à nossa volta havia pessoas almoçando
sozinhas em mesas quase individuais, umas prestando atenção ao que se passava
pela grande TV fixada em uma parede lateral do estabelecimento, outras, apenas
devaneando enquanto olhavam para parte do bife preso ao garfo. Havia também famílias
silenciosas e famílias não tão silenciosas assim. Uma delas tinha uma linda
menininha que precisou de uma cadeira mais alta para conseguir alcançar a mesa.
Suas perninhas balançavam e os seus não dentes sorriam. Sorri junto e não pude
deixar de comentar “olha que bebê bonito”, você olhou no impulso, deu um
sorriso discreto e voltou para o seu prato. Observei os bancos vermelhos em
forma de disco e me lembrei de que não sou fã dessa cor. Senti o cheiro do que
era preparado, prestei atenção no vai e vem dos funcionários. E entre obrigados
e bons apetites, por um segundo, seus olhos se desviaram de seu prato - realmente
cheio - e se permitiram olhar um pouco o que se passava na rua que estava bem à
sua frente. Os raios de sol entravam pela grande porta que estava aberta e seus
olhos vagos, perdidos e pensativos se iluminaram. Por mais que eu me negasse ao
contato visual e ao contato com sua alma, que eu inocentemente não sabia que já
havia acontecido, cometi o equívoco de te olhar nos olhos, o que me levou a
descobrir a verdadeira cor deles. Eu disse: “seus olhos são verdes”, você
sorriu de maneira discreta e apenas disse “sim”. Seu olhar naquele momento era
verde, até me esqueci de que eles também eram vagos, que pareciam sentir medo e
que não queriam se envolver. Você provavelmente não conseguiu descobrir a cor
dos meus olhos, muito provavelmente você nem mesmo o quisesse, mas eu descobri
a cor dos seus, e eu gostaria de poder ter dito que sou fã dessa cor, mas o
importante é que eles ainda devem ser verdes e disso nunca vou me esquecer.

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